13/10/2008

Deus sabe o que faz...

No dia 18 de setembro de 2008, Maria Dias; perdão; Maria Afonso Matias, depois de uma ligeira conversa com o médico, apanhou (oficialmente) Alzeimer! Que destino triste e cruel ... uma pessoa viver uma vida inteira cheia de alegrias e tristezas e quase no fim perder a lucidez e começar a esquecer tudo. Mas um dia, antes de eu partir, dona Maria disse-me:
  • - Meu filho, faz boa viagem, que Deus te proteja e te dê muita sorte.
  • - E que Deus proteja a avó também e que lhe dê muita saúde.
  • - Ó meu filho ... eu já estou protegida pela natureza!
Estava num momento de lucidez...
Os médicos, pessoas cultas que estudaram, chamam-lhe "demência"; Maria Afonso Matias, que só tem a experiencia da vida, chama-lhe "estar protegida pela natureza".
Talvez não seja assim tão mau uma pessoa chegar a velha e ficar "protegida pela natureza". Protegida do sofrimento de deixar esta vida que, apesar de ser muitas vezes lamentada, agarramos com unhas e dentes, pois pensar que se vai deixar a família, os amigos, e tudo o que nos é mais querido, não é mais do que sofrer.
Demência! ... otários!

17/09/2008

Tavira

  • Cheirando a brisa do vento,
  • Tento reter o momento,
  • Em que o sol se vai deitar.
  • Vestindo um pijama brilhante,
  • De um laranja ofuscante,
  • Sobre a sua cama de mar.
  • -
  • Sentindo envolver os pés,
  • No calor da areia quente,
  • Que em breve vai esfriar.
  • Morde-me uma nostalgia na alma,
  • Pois eu sei que aqueles tempos,
  • Jamais irão voltar.
  • -
  • Ficaram presos no sempre,
  • Nessa ilha pura e discreta,
  • Entre Monte Gordo e Olhão.
  • Onde a minha juventude,
  • Soltando-se da inocência,
  • Entre um catemo e um canhão,
  • Foi abencoada por ti,
  • Que nos mostras-te que o mundo,
  • Nos cabe na palma da mão.

17/03/2008

O nosso novo fado

Ó velho senhor dos oceanos,
O que te fez parar?
Será que ao fim de tantos anos,
Ganhaste medo do mar?
.
Tenho o sangue de um povo aventureiro,
Não me amedrontam nem vagas nem marés,
Mas o destino mostrou-me outros caminhos:
Agora cruzo terra firme com os pés.
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Aventuro-me por reinos distantes,
Sou como as gaivotas quando saem para pescar,
Busco a sorte e o pão de cada dia,
Mas tal como parti também hei de voltar.
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Não sigas sempre as pegadas do destino.
Por vezes tens que remar contra a maré. Deixas-te guiar por terras longínquas, E Portugal está a merda que se vê.
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Enquanto buscas, português destemido,
Comem-te o país de lés a lés,
Se te perdes no caminho ficas sem terra,
E quando regressares, lá tens que ir tu outra vez.

Tropical Island

Debaixo da maior cupula do mundo (a antiga fabrica dos Zepplin) existe um paraíso tropical. Não quero exagerar mas cabiam lá dentro, à larga, os estadios do Porto e Sporting.
Palavras para quê...
É impresionante, mas não tem comparação ao nosso mar e às nossas praias. Tirando a sauna, onde todos os alemães se misturam sem preconceito. É pena não se poder tirar fotos.

15/03/2008

03/03/2008

A essência do momento

Acordo, cheiro o mundo,

O sol já raía lá fora,

É hora de me embebedar com vida.

.

Aproveito cada momento,

Cada pedaço de tempo,

Como se não houvesse amanhã.

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Não penso muito no futuro,

Pois quando ele me passar à frente,

Já não é mais futuro, é presente.

.

Ergue o teu copo, irmão,

Ao presente e ao passado vamos brindar,

Ao primeiro por ser único,

E ao outro por não se acabar.

.

Assim me perco e me encontro,

Não sei em que tempo vivo,

Mas sei que lá posso voltar outra vez.

.

Então quando o amanhã chegar,

E o sol voltar a raíar,

Posso acordar e logo a seguir morrer feliz.

O turbilhão dos desejos

Sinto a falta de um beijo,

De uma boca molhada.

Estou a morrer de desejo,

Choro por isso e mais nada.

.

Sinto o desejo ardente,

De um carinho qualquer,

De mergulhar e perder-me,

Nos seios de uma mulher.

.

Sinto a vista insensível,

Precisa de ser acordada,

De passar a pente fino,

O teu corpinho de fada.

.

Pára, não posso mais,

Já saciei os sentidos,

Ouvi todos os teus gemidos,

E o fogo da tua vós.

Senti o calor do teu corpo,

O vazio que nele reinava,

E aí soube o que me faltava:

Matar a fome de amor.

PS: O meu maninho tem a mania q é poeta. Mas n é o unico na familia.

15/01/2008

O meu apartment 3

A cozinha - reparem no detalhe do mosaico.

O meu apartment 2

A sala de estar.

A muralha da cidade

Freiberg é uma antiga cidade mineira com mais de 800 anos.

O meu apartment 1

O quarto e o escritório

O bar da shisha

Nao é uma coffe shop mas por 3,90 euros fuma-se aqui uma.

As alemas da DDR

Aqui há loiras e morenas - para todos os gostos

Os patos estao fodidos

Aqui os lagos estao todos gelados. E quando este acabar de gelar, como é? Arroz de pato, pois claro.

Outra rua

Reparem no carro (feito em papel prensado) do tempo dos comunas. Era preciso estar 20 anos em espera para comprar um.

Uma caserna dos Russos

Aqui só se vêem edificios imponentes a cair aos bocados - para recordar os velhos tempos

Uma rua do centro

Willkommen in Freiber

Freiberg parece uma aldeia pacata no meio do campo. Nao se passa nada, mas é bonita. Intalaram-me num quarto de uma pensao até ao fim do mês. A velha, dona daquilo, fala tao bem ingles como eu alemao, mas dá para comunicarmos o básico. A casa onde estou é uma obra de arte: tem quarto sala e cozinha (sem chaminé) na mesma divisao. Agora já nao tenho que cheirar o escape do motor, mas tenho que gramar o cheiro dos cozinhados que vou fazendo (menos mal). A velha vai lá todos os dias (menos ao domingo) fazer-me a cama e dar uma arrumacao, mas nao lava a loica (nao sei porquê). Já arranjei uma biciclete (pelas via legais: 50 euros). É bacana e o velho que ma vendeu até me ofereceu um cadeado. Ando à procura de um quarto em casa de estudantes. Já vi alguns, mas ainda tenho mais para visitar. Aqui ficam algumas fotos da aldeia e do meu quarto:

Uma viagem com escala no inferno!

Quando saí de Lisboa nao tinha a certeza de que iria chegar, ou melhor, de que a minha carripana iria chegar á DDR. Mas a verdade é que chegou! Atravessar espanha foi um passeio no parque, sempre por auto-pista gratis, em velocidade cruzeiro (80 km/h). Nessa altura o meu objectivo nao era Alemanha, era Barcelona. Quase 1300 km para fazer num dia e meio. Se a HIACE morresse aí nao havia grande stresse, pois ficava a fazer companhia ao AX. Mas felizmente nao morreu, e em Barcelona tive um dia a recuperar das flautulencias de fumo que a farrunca largava no cockpit, e que me foderam (literalmente) os pulmoes todos. Deixei a Catalunha um dia depois, com outro animo. A travessia de espanha deu para ver que a minha HIACE tem um motor que nunca mais acaba (se tiver agua no radiador e oleo no carter). Dali para a frente era só auto-estrada (1700 km de belo asfalto), com estacoes de servico abertas 24 horas onde eu podia pernoitar e controlando o motor. Fiz-me há estrada em velocidade cruzeiro (80) e 400 km depois o meu sonho cor de rosa acabou. Dois porcos da bofia mandaram-me encostar. Talvez nao tenha visto algum sinal de excesso de velocidade pensei eu (porque estavam umas obras no auto-estrada). Nada disso! -- Vous vous déplacez très lentement! - disse o cabrao do bofia. -- O que? Nao percebo o que estas ablando. - respondi-lhe eu. Mas no final compreendi que lhe tinha que pagar 90 euros por ir a menos de 90 km/h. Devem estar a gozar comigo. -- Je sois Portugal. Na minha terra o limite minimo é 40 km/h. - tentei eu explicar-lhe em frances fluente. -- Tu nao estas em portugal, ó filho! Tens un peu d'argent? - fez-se o bofia ao dinheiro subtilmente. Azar dos azares: tinha 5 euros no bolso. Mostrei-lhos, mas ele era uma puta fina e nada. Fez-me andar 10 km para tras no auto-estrada para ir levantar dinheiro. Pagei os 90 e fiz-me à estrada, mas desta vez por nacionais. Ao fim de alguns kilometros vi que estava na merda: a atravessar todas as terrinhas a 50 km/h; por estradas aos ss e aos altos e baixos; e ainda a 250 km de Lion (o meu objectivo para aquele dia), e já eram 18:00. Nao pode ser. Meti-me de novo no auto-estrada sempre a 90-100 km/h. O motor bufava como um touro e a temperatura sempre a subir. Parava em todas as estacoes de servico para arrefecer o bicho. Numa dessas ocasioes meti conversa com um tipo para lhe perguntar se havia problema em ir a 90 km/h. O gajo era um argelino, que foi muito bacano e me disse para ir atras dele, pois ele ia-me acompanhar a 90 km/h. -- Paramos mais à frente para beber um cafe. - disse ele. Uns kilometros depois lá parámos. E a farrunca bem estava a precisar. Bebemos um café e o argelino nao me largava da mao. Entrava e saia da carrinha a dizer que os pretos em africa me davam um balurdio pela HIACE e, eu pensei que me queria gamar. Comecei a stressar. Ele ficou com o meu numero de telemovel e perguntou-me para onde ia eu. Claro que lhe menti e finalmente lá continuámos. "Nao volto a parar em quanto tiver este gajo for no meu encalco". Mas no fim nao aconteceu nada e cada um de nos foi à sua vida. Já era tarde e parei numa estacao de servico para dormir. Só camionistas. É impressionante a quantidade de camioes que circulam em Franca e na Alemanha. Estacionei e fui perguntar à empregada da estacao (em frances fluente) se era seguro dormir ali. Perguntou-me que lingua eu falava e, descubri que ela era portuguesa. -- Podes dormir aqui ao pé das bombas, que têm câmaras de video. Nao te metas no meio dos camioes se nao os romenos comente vivo! - disse ela e, deu-me um café. Assim fiz, e dormi uma noite agitada ao som de quem vinha abastecer. Aquela estacao de servico parecia um parque de campismo, cheia de camioes. Até havia balnearios com chuveiros e tudo. Acordei de manha cedo e fiz-me à estrada. Sempre a puxar pela carripana, porque estava a atravessar a zona dos Alpes e nao podia baixar dos 90 km/h. "Estou fodido", pensei eu, "esta merda nao chega à alemanha". Às tantas tive que sair do auto-estrada para poder ir mais devagar e assim dar algum descanso ao motor. Andei algum tempo na nacional e voltei novamente ao ataque dos 90 km/h, pois já estava perto da fronteira. Quando entrei na alemanha fiz uma festa. Agora já podia ir a 80 km/h. Sempre a controlar a temperatura do motor, reparei que este nao estava a aquecer. Milagre? Um pouco depois parei numa estacao de servico para descansar. Abri o radiador e vi que água nem vê-la. "Por isso é que esta merda nao aquecia, nao há agua para aquecer". Comecei a stressar outra vês. Só mais tarde percebi que para andar a 90 km/h com a HIACE tinha que parar de tanto a tanto para atestar de água o radiador. E a viagem continuou assim nesse dia: sempre em cima da temperatura; e ainda por cima o sul da alemanha também tem montanhas a perder de vista. E para ajudar à festa, nas auto-estradas alemas as estacoes de servico podem-se encontrar muito afastadas (para aí de 80 em 80 km). Era já noite cerrada quando tive que encostar na berma do auto-estrada para ver a agua do radiador. Lá fui andando até à proxima estacao de servico e, sorte do caracas, tinha um motel. "Que se foda, hoje vou dormir à grande e tomar banho para nao chegar ao pé dos alemaes a cheirar a porco fumado", pensei eu. Além disso já trazia os pulmoes a arder de respirar tanto fumo e, o ranho vinha com sangue, além do frio que estava na rua. Paguei os olhos da cara (60 euros), outra "multa". Lavei-me, dormi e fiz-me à estrada, para completar os ultimos 250 km que me faltavam. Foi um passeio no parque: as montanhas ficaram para trás e nao havia chuva nem neve. "Agora mesmo que a farrunca dê o berro já nao há stress, o seguro em viagem resolve". Finalmente cheguei ainda antes de almoco e, fiz a promessa de nao voltar a fumar (enjoei). Agora só me falta a viagem de regresso, mas essa logo se vê...