15/01/2008

Uma viagem com escala no inferno!

Quando saí de Lisboa nao tinha a certeza de que iria chegar, ou melhor, de que a minha carripana iria chegar á DDR. Mas a verdade é que chegou! Atravessar espanha foi um passeio no parque, sempre por auto-pista gratis, em velocidade cruzeiro (80 km/h). Nessa altura o meu objectivo nao era Alemanha, era Barcelona. Quase 1300 km para fazer num dia e meio. Se a HIACE morresse aí nao havia grande stresse, pois ficava a fazer companhia ao AX. Mas felizmente nao morreu, e em Barcelona tive um dia a recuperar das flautulencias de fumo que a farrunca largava no cockpit, e que me foderam (literalmente) os pulmoes todos. Deixei a Catalunha um dia depois, com outro animo. A travessia de espanha deu para ver que a minha HIACE tem um motor que nunca mais acaba (se tiver agua no radiador e oleo no carter). Dali para a frente era só auto-estrada (1700 km de belo asfalto), com estacoes de servico abertas 24 horas onde eu podia pernoitar e controlando o motor. Fiz-me há estrada em velocidade cruzeiro (80) e 400 km depois o meu sonho cor de rosa acabou. Dois porcos da bofia mandaram-me encostar. Talvez nao tenha visto algum sinal de excesso de velocidade pensei eu (porque estavam umas obras no auto-estrada). Nada disso! -- Vous vous déplacez très lentement! - disse o cabrao do bofia. -- O que? Nao percebo o que estas ablando. - respondi-lhe eu. Mas no final compreendi que lhe tinha que pagar 90 euros por ir a menos de 90 km/h. Devem estar a gozar comigo. -- Je sois Portugal. Na minha terra o limite minimo é 40 km/h. - tentei eu explicar-lhe em frances fluente. -- Tu nao estas em portugal, ó filho! Tens un peu d'argent? - fez-se o bofia ao dinheiro subtilmente. Azar dos azares: tinha 5 euros no bolso. Mostrei-lhos, mas ele era uma puta fina e nada. Fez-me andar 10 km para tras no auto-estrada para ir levantar dinheiro. Pagei os 90 e fiz-me à estrada, mas desta vez por nacionais. Ao fim de alguns kilometros vi que estava na merda: a atravessar todas as terrinhas a 50 km/h; por estradas aos ss e aos altos e baixos; e ainda a 250 km de Lion (o meu objectivo para aquele dia), e já eram 18:00. Nao pode ser. Meti-me de novo no auto-estrada sempre a 90-100 km/h. O motor bufava como um touro e a temperatura sempre a subir. Parava em todas as estacoes de servico para arrefecer o bicho. Numa dessas ocasioes meti conversa com um tipo para lhe perguntar se havia problema em ir a 90 km/h. O gajo era um argelino, que foi muito bacano e me disse para ir atras dele, pois ele ia-me acompanhar a 90 km/h. -- Paramos mais à frente para beber um cafe. - disse ele. Uns kilometros depois lá parámos. E a farrunca bem estava a precisar. Bebemos um café e o argelino nao me largava da mao. Entrava e saia da carrinha a dizer que os pretos em africa me davam um balurdio pela HIACE e, eu pensei que me queria gamar. Comecei a stressar. Ele ficou com o meu numero de telemovel e perguntou-me para onde ia eu. Claro que lhe menti e finalmente lá continuámos. "Nao volto a parar em quanto tiver este gajo for no meu encalco". Mas no fim nao aconteceu nada e cada um de nos foi à sua vida. Já era tarde e parei numa estacao de servico para dormir. Só camionistas. É impressionante a quantidade de camioes que circulam em Franca e na Alemanha. Estacionei e fui perguntar à empregada da estacao (em frances fluente) se era seguro dormir ali. Perguntou-me que lingua eu falava e, descubri que ela era portuguesa. -- Podes dormir aqui ao pé das bombas, que têm câmaras de video. Nao te metas no meio dos camioes se nao os romenos comente vivo! - disse ela e, deu-me um café. Assim fiz, e dormi uma noite agitada ao som de quem vinha abastecer. Aquela estacao de servico parecia um parque de campismo, cheia de camioes. Até havia balnearios com chuveiros e tudo. Acordei de manha cedo e fiz-me à estrada. Sempre a puxar pela carripana, porque estava a atravessar a zona dos Alpes e nao podia baixar dos 90 km/h. "Estou fodido", pensei eu, "esta merda nao chega à alemanha". Às tantas tive que sair do auto-estrada para poder ir mais devagar e assim dar algum descanso ao motor. Andei algum tempo na nacional e voltei novamente ao ataque dos 90 km/h, pois já estava perto da fronteira. Quando entrei na alemanha fiz uma festa. Agora já podia ir a 80 km/h. Sempre a controlar a temperatura do motor, reparei que este nao estava a aquecer. Milagre? Um pouco depois parei numa estacao de servico para descansar. Abri o radiador e vi que água nem vê-la. "Por isso é que esta merda nao aquecia, nao há agua para aquecer". Comecei a stressar outra vês. Só mais tarde percebi que para andar a 90 km/h com a HIACE tinha que parar de tanto a tanto para atestar de água o radiador. E a viagem continuou assim nesse dia: sempre em cima da temperatura; e ainda por cima o sul da alemanha também tem montanhas a perder de vista. E para ajudar à festa, nas auto-estradas alemas as estacoes de servico podem-se encontrar muito afastadas (para aí de 80 em 80 km). Era já noite cerrada quando tive que encostar na berma do auto-estrada para ver a agua do radiador. Lá fui andando até à proxima estacao de servico e, sorte do caracas, tinha um motel. "Que se foda, hoje vou dormir à grande e tomar banho para nao chegar ao pé dos alemaes a cheirar a porco fumado", pensei eu. Além disso já trazia os pulmoes a arder de respirar tanto fumo e, o ranho vinha com sangue, além do frio que estava na rua. Paguei os olhos da cara (60 euros), outra "multa". Lavei-me, dormi e fiz-me à estrada, para completar os ultimos 250 km que me faltavam. Foi um passeio no parque: as montanhas ficaram para trás e nao havia chuva nem neve. "Agora mesmo que a farrunca dê o berro já nao há stress, o seguro em viagem resolve". Finalmente cheguei ainda antes de almoco e, fiz a promessa de nao voltar a fumar (enjoei). Agora só me falta a viagem de regresso, mas essa logo se vê...

1 comentário:

MrMoon disse...

Respect! Uma viagem assim não é para todos.

pneto